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Ponencia del Curso de Artes Visuales de la Universidad Federal de Roraima/ UFRR


PANELA DE BARRO INDÍGINA MACUXI: processos e transformações[1]
  
Dayana Soares A. Paes[2], Guaracy da Costa Silva [3], Meury Chayhayny Oliveira de Araújo[4]

RESUMO

Este artigo trata do resultado parcial de uma atividade feita no Seminário Interdisciplinar do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima. Este é realizado semestralmente e consiste em elaborar trabalhos teóricos/práticos a partir de um tema escolhido por um grupo de estudantes sob orientação de um professor, onde foi decidido atuar com a temática Cerâmica Indígena Macuxi. O maior objetivo foi estudar sobre o processo da produção das panelas de barro dos indígenas da etnia Macuxi e suas transformações sob o ponto de vista do casal indígena Lídia e Terêncio. Para isso, o grupo realizou visitas à casa/ateliê destes, visto que em Boa Vista, destacam-se na produção, comercialização e exposição artística das panelas de barro e outras criações com a utilização da argila. Durante a coleta de dados, foram realizadas entrevistas e registros fotográficos das peças trazendo não apenas o processo de produção, mas também histórias sobre as tradições do povo macuxi. Diante disto, pudemos perceber algumas mudanças na produção das panelas de barro e no ritual que envolvia a retirada da argila.  Assim, o presente artigo abordará sobre o processo de produção das panelas de barro da cerâmica macuxi a partir da perspectiva histórica de Lídia e Terêncio apontando algumas transformações.

Palavras Chave: Cerâmica Macuxi; Panela de Barro; Transformações.


Ponentes en el Museo Nacional de Colombia, Foto: Michelle Avila Grismaldo- Cerámica Amarilla


INTRODUÇÃO

A partir do Seminário Interdisciplinar, que ocorre semestralmente no Curso de Artes Visuais da UFRR, abordamos sobre a produção da panela de barro dos indígenas Macuxi. Nosso objetivo foi analisar o processo histórico cultural da produção deste artefato baseado na entrevista que realizamos com o casal indígena macuxi Lídia e Terêncio, visto que este, conforme nossas pesquisas, representam uma das maiores produções de cerâmica Macuxi na cidade.
Boa Vista, capital de Roraima, possui algumas ramificações na produção de artefatos cerâmicos. O principal está direcionado para atender a indústria da construção civil com a produção de telhas e tijolos. Existem também os ceramistas que migraram para Boa Vista durante o processo de ocupação no século XX  e que trouxeram em suas bagagens um conhecimento tradicional que passaram a utilizar na confecção de vasos e utensílios de jardinagem, os acadêmicos, que têm contato com a cerâmica no Curso de Artes visuais, dos quais muitos são indígenas ou são descendentes,  fazendo uma produção baseada em poéticas individuais e, os povos indígenas, dos quais tratamos aqui da produção das panelas de barro dos Macuxi que residem na cidade.
Ao nos referirmos à arte indígena e cerâmica Macuxi, fizemos uma busca bibliográfica e encontramos poucas referências em relação a livros, porém encontramos artigos, TCCs e reportagens que retratam este tema e, quase todos eles, falam exatamente sobre Lídia Raposo, visto que ela é considerada uma das maiores produtoras das panelas de barro atualmente. Desta forma, destacamos o trabalho de Castelo Branco (2015) que aborda sobre a patrimonialização das panelas e traz um relato detalhado sobre a produção das peças de Lídia; autores que falam sobre a produção cerâmica indígena em Roraima como Theodor Koch-Grunberg (2006) e Kok(2014); bem como Berta Ribeiro (1989) que trata sobre arte indígena, entre outros.
No estado de Roraima, os indígenas Macuxi pesar de terem várias manifestações culturais como a dança parixara[5], a damurida[6] e o caxiri[7], são bastante conhecidos pela sua produção cerâmica das panelas de barro. A cerâmica é limpa, sem grafismos ou pinturas o que as tornam únicas e tradicionalmente Macuxi. Assim, no decorrer deste artigo, baseado nas entrevistas dos indígenas ceramistas Macuxi Lídia e Terêncio, mostraremos brevemente o processo de confecção das panelas, bem como as mudanças que sofreram com o decorrer do tempo.

CERÂMICA MACUXI

É muito provável que a história da cerâmica tenha começado logo após a descoberta do fogo, pois, o homem descobriu que ao ser queimada, a argila se transformava em um material rígido e inalterável ao contato com a água. Os indígenas dominam a técnica da cerâmica há milhares de anos e foi o domínio desta técnica uma das responsáveis pela contribuição na sedimentação destas civilizações. As cerâmicas indígenas têm características próprias que varia de região para região. Até hoje é realizada por várias comunidades indígenas a fabricação de panelas, vasos, recipientes para armazenar água e até fabricação de bonecas, como na tribo Carajás no Tocantins, por exemplo.
Devido a convivência do índio com o não-índio, tiveram muitas mudanças na forma de viver e ver o mundo de incontáveis povos. Uma das tradições milenares indígenas era o uso e produção das panelas de barro, mas em Roraima esta tradição estava sendo esquecida. Os jovens já não sabiam mais produzir as peças cerâmicas e não mais as utilizavam, como de costume. Provavelmente, isso pode ter ocorrido pelo fato de terem se aproximado de novas tecnologias fazendo com que os indígenas também acabassem por usufruir de objetos industrializados que, ao nosso ver, poderiam estar facilitando mais seus afazeres, como as panelas de alumínio, por exemplo, pois estas possuem grande durabilidade. Por mais que as panelas de barro sejam um dos utensílios usados no processo de preparo de alimentos mais antigos que existem, alguns povos deixaram de utilizar e outros as utilizam até hoje. A isso, temos percebido que, não somente com os Macuxi, mas também com outas etnias de Roraima, está ocorrendo um processo de revitalização do fazer e uso desse utensílio. Os indígenas estão voltando a produzir, falar da importância de utilizar as panelas de barro, conforme podemos perceber nas festas de artesanato e exposições de trabalhos indígenas.
O antropólogo alemão Theodor Koch-Grunberg (2006), nos anos de 1911 a 1913 viajou pelo norte do Brasil, passando também pelo Estado de Roraima e, em seu diário, traz o relato de vivências que teve a partir do contato com vários povos indígenas. Com base em suas narrativas sobre os artefatos, queremos destacar o que ele disse sobre a cerâmica que encontrou na aldeia Koimélemong, ao norte de Roraima. Nesta, habitavam indígenas Macuxi, Wapichana e Tauregang. O mesmo afirma que as cerâmicas feitas pelas mulheres tinham uma qualidade diferente das que ele encontrou nas tribos Aruak no alto Rio Negro. Em Koimélemong “as panelas e os potes, grosseiros, não têm enfeite nenhum e são malcozidos”. Aqui podemos constatar que as cerâmicas feitas pelos indígenas de Roraima ainda seguem o mesmo formato na questão de acabamento, pois continuam lisas, sem desenhos ou relevos, ou seja, não possui desenhos decorativos.
O que se sabe sobre a cerâmica Macuxi é que antes de ser criado o Estado de Roraima, as sociedades indígenas deste local, possuíam uma rede de trocas, conforme visto em Castelo Branco (2015, p.34 apud RODRIGUES, 2013 p.42) afirmando que “no Brasil, os Ingarikó antes do contato com a colonização no século XIX mantinham uma rede de troca com os Macuxi, onde desciam as serras com suas produções de fibra de arumã, tipitis, jamaxim e trocavam por panelas de barro’’.  Kok (2014, p. 47), fazendo uma distinção entre as artes indígenas, afirma que algumas peças são encontradas em várias regiões devido a essa rede de trocas, como o caso do Muiraquitã encontrado tanto no Amazonas quanto em Roraima, alegando que “no início do ano 1000 de nossa era, as populações amazônicas estavam integradas em redes de trocas de artefatos, informações e alianças de guerra, que possibilitavam o intercâmbio entre culturas bastante afastadas uma das outras”. As panelas de barro eram tão desejadas que fez com que fossem não só uma moeda de troca, mas um poderoso condutor e promotor de intercâmbios entre culturas de povos distintos causando então novas alianças. Com esta afirmação, podemos constatar que nessa época havia uma grande produção para que ocorresse a comercialização, e assim vemos ocorrer nos dias atuais, muitos roraimenses possuem uma panela de barro em sua casa.
                                                                      
MUDANÇAS NA PRODUÇÃO DAS PANELAS DE BARRO MACUXI

Iniciaremos este ponto descrevendo primeiramente fatos importantes que descrevem como os antepassados de Lídia da Silva Raposo, índia Macuxi, que nasceu e se criou na comunidade indígena Raposa Serra do Sol, faziam as panelas de barro. Para isso, lembramos que muito dos dados coletados foram relatados pela própria e seu companheiro Terêncio durante as entrevistas e registros fotográficos que realizamos, com a devida autorização. Quando criança, Lídia recorda que via sua avó Damiana fazendo as panelas. Foram com essas lembranças que desenvolveu esse ofício.
Para a produção, tudo começava um dia antes da retirada do barro. Em sua fala Lídia relata: “Quando era criança, minha vó Damiana, um dia antes de ir pegar o barro fazia uma mistura de óleo e urucum dentro de uma cuia para poder benzer. Eu perguntei a minha vó, ela disse que era para proteção. De manhã cedinho, ela passava o urucum benzido em mim, nos braços, nas pernas, no rosto, e preparava o peixe assado, o tabaco e o retalho para levar para vovó barro, que é como chamamos a mãe natureza. E quando chegávamos no barranco ela começava a dizer ‘Vovó eu trouxe um retalho pra você vestir, eu trouxe um peixe pra você comer, eu trouxe um tabaco pra você fumar’, ela falava isso em Macuxi, andando falando e pondo no barranco” (LÍDIA, entrevista em 31/10/2015). Ela também relatou que antigamente, somente a mulher podia pegar o barro, mas que não podia estar menstruada, de luto ou grávida. Outro fator é que as crianças não podiam produzir, somente olhar e fazer silêncio, pois a “Vovó barro” não gostava de barulho. Além disso, os homens não podiam ver as mulheres fazendo as panelas de barro, pois acreditavam que as panelas rachavam.
Quando Lídia foi morar na cidade, conheceu Terêncio e se uniram. Aproximadamente nos anos 90, trabalhou pelo governo, mas posteriormente saiu do emprego e começou a trabalhar em casa de família. Ela disse que diariamente pensava em produzir as panelas, mas que tinha visto apenas sua vó fazer e, mesmo assim, decidiu tentar. Então, durante o dia trabalhava nas casas e a noite trabalhava com o barro. Apenas com as lembranças iniciou o processo onde algumas coisas deram erradas. Primeiro ela fez a queima apenas com o carvão. Não funcionou porque a panela além de ter diminuído, não atingia a temperatura necessária. Depois queimou com lenha e funcionou. Nesse jogo entre erros e acertos, muitas panelas racharam antes ou durante a queima, contudo, atualmente já dominam a cozedura. Quando conseguiu finalmente fazer a tradicional panela de barro Macuxi, seu companheiro saía durante o dia de bicicleta para tentar vender e aumentar a renda da família. Quem quisesse a panela e não tivesse dinheiro podia utilizar o mesmo método que faziam no passado, trocar por algo que a família necessitava. Geralmente eram alimentos. Desta forma as vendas foram crescendo e o casal começou a se sustentar apenas com a venda e também ministrando cursos sobre a panela de barro.

Ao relatar sua história sobre o processo de produção das panelas de barro, Lídia nos falou que ainda segue alguns costumes, no entanto, também mudou alguns procedimentos que consideramos como mudanças na tradição, ou seja, utiliza um novo modo de fazer. A partir de então podemos evidenciar algumas transformações. Primeiro a comunidade não queria deixar o casal pegar o barro porque alegavam que eles não moravam lá, mas isso foi vencido, pois, apesar de não morar lá, Lídia alegou que nasceu, foi criada e, portanto, é Macuxi, dizendo que poderia sim pegar a matéria prima. Fretavam um carro para carregar o barro, mas quem coletava ainda era ela, uma mulher, conforme a tradição. No entanto, com o passar do tempo e devido a demanda, Terêncio começou a ajudar na produção e também produz panelas. Esse é outro fator de mudança que podemos constatar, pois antigamente o homem não podia participar desse processo.  Além do mais, os clientes começaram a encomendar outros modelos, onde da panela de barro surgiram travessas, cuscuzeiras, e utensílios bem diferentes das panelas.

No processo de produção, depois da coleta, pilam o barro dentro de um grande pneu de trator cortado ao meio, peneiram para tirar dejetos, molham e deixam descansar para posteriormente modelar. Antigamente eles pilavam o barro em cima de uma grande pedra. No trabalho mais pesado, além de Terêncio, o filho também ajuda. Para a panela, usam a técnica manual de acordelado. Em momentos de alta demanda, para agilizar, Terêncio faz as “cobrinhas” e Lídia vai sobrepondo e subindo a panela. Na modelagem das tampas usam um molde de gesso. No acabamento os filhos, que já são adultos, também ajudam a polir utilizando primeiro um pedaço de cabaça e, em seguida, a pedra jaspe. Já testaram outras massas, mas consideram que apenas o barro de sua terra de origem é bom para fazer cerâmica. Para a queima, descobriram que podiam utilizar as madeiras que encontravam jogadas no lixo, inclusive portas de guarda-roupas feitas de aglomerado. Antes usavam somente a lenha. Na casa/ateliê do casal criaram uma espécie de corredor com tijolos de aproximadamente 50cm de altura, onde colocam uma grelha em cima, sendo este o lugar que na primeira fase da queima ficam as panelas emborcadas. Nessa fase, primeiro colocam a panela para esquentar na brasa. Na segunda fase, tira-se a grade e colocam as panelas direto no fogo colocando mais lenha para atingir a temperatura esperada. Com as panelas ainda quente, retiram-nas do fogo com um pedaço de metal e jogam no seu interior uma mistura concentrada de café com açúcar para impermeabilizar e poder usá-las para cozinhar alimentos. A damurida é um dos alimentos muito consumido pelos indígenas. Uma das características principais da panela de barro macuxi, com dito anteriormente, é sua superfície lisa, sem desenhos e muito bem brunidas.  Para isso, Berta Ribeiro (1989, p. 38) acrescenta que “a produção da cerâmica atendeu a uma necessidade humana básica: a cocção de cereais e outros alimentos. Trata-se de uma tendência universal, entretanto, cada grupo humano imprimiu a essa arte sua ‘personalidade cultural’”. Assim, podemos dizer que por muitos anos a tradicional panela Macuxi revela, desde o seu ritual de antigamente, como sua forma de produção atual, elementos que apresentam a cultura da etnia Macuxi.
Apesar de morar na cidade há quase 15 anos e algumas tradições terem sido quebradas, como o fato de seu companheiro Terêncio Malaquias ajudar na produção das panelas, por exemplo, Lídia acredita que algumas tradições não devem ser esquecidas. A mesma relatou que certa vez foi buscar barro na Raposa (Lugar de onde vem a argila de sua produção), ainda de luto por um parente e que também levou uma amiga que estava menstruada. Posteriormente, ela conta que se sentiu mal e sonhou que “vovó barro” ficou zangada e a aldeia toda ficou doente por culpa dela. No sonho, Lídia perguntava a vovó barro o porquê, ao passo que recebia a resposta “você sabe o que você fez”, se referindo ao luto quebrado. A amiga que acompanhou Lídia, ficou doente. Outro fator interessante foi relatado por Terêncio, ele disse que seus irmãos, quando vêm à cidade, ajudam na produção das panelas, coisa que eles não fazem na comunidade, para evitar gozações. Alegou que na comunidade os outros homens falam que é coisa de “mulherzinha” e inclusive já foi alvo dessas gozações, por ministrar curso de panelas de barro nas comunidades indígenas. Hoje em dia, os homens ajudam na retirada do barro e no transporte.  Desta forma, a ausência de crença nos chamou atenção pelo fato de eles não fazerem na comunidade apenas porque os outros homens acham que é coisa de mulher, e não por creem que o barro vai rachar ou não vai dar certo.  
Com o crescimento da demanda das panelas de barro, acreditamos que algumas mudanças foram necessárias, porque, mesmo assim, percebemos a valorização que a população e os próprios indígenas têm dado às panelas de barro indígenas Macuxi devido ao seu valor cultural. Além de a população em geral vir adquirindo as peças, a própria rede de restaurantes percebeu que estes utensílios possuem algumas qualidades. Uma delas é que estes utensílios não possuem aditivos artificiais ou sintéticos. Outro fator, é que, principalmente nas peixarias, as panelas mantêm o alimento aquecido por mais tempo. Sobre as transformações tanto no processo quanto na criação de novos modelos de cerâmica,  Berta Ribeiro (1989, p.48) contribui afirmando que “tal como a cultura, a arte primitiva, não obstante sua aparente estabilidade, é passível de transformações na medida em que o grupo sofre influência de outros ou da sociedade nacional circundante”, ou seja, percebemos este fato quando, a pedido de restaurantes e pessoas da comunidade em geral, Lídia e Terêncio produzem outros tipos de peças que atendam às necessidades de seus compradores.
     Para Lídia, as panelas têm mais do que o valor econômico, elas carregam em si valores simbólicos de sua cultura. Ao tratar do termo cultura, nos referimos aqui a indivíduos que seguem uma “tradição”, termo este muito utilizado pela própria Lídia. Tradição no sentido de continuar a reproduzir o que os antepassados ensinavam, de geração em geração, fazendo com que assim seja caracterizado o modo de vida, o costume de um povo. Ela enfatiza que seu maior orgulho é estar mantendo sua cultura. Suas panelas se tornaram conhecidas na cidade mesmo com algumas das transformações que ocorreram, como em suas tampas e pegadores, por exemplo. Pois antigamente a panela possuía quatro pequenos pegadores e agora possui dois. Com o tempo, também surgiram os refratários, as cuscuzeiras, fogareiros, peças de formas e tamanhos diferentes, dependendo da encomenda de cada cliente, e tudo feito manualmente. Em todo esse processo de criação, podemos perceber as interferências devido à relação com outras culturas, com outros fatores sociais acarretando assim nas transformações estéticas quanto ao formato e produção. Sobre isso, Grupioni (1994) em seus estudos antropológicos, trata da questão estética e da criatividade do indivíduo alegando que:

“A antropologia da estética ocupa-se ainda da criatividade individual, ou seja, o estudo do indivíduo através da sua elaboração cognitiva e inventividade pessoal, inserido em seu contexto sócio-cultural. A criação estética é analisada como uma performance, reveladora de aspectos individuais e sociais. Outro ponto importante é o estudo da estética no contexto de transformação social, acarretado pelos contatos inter-étnicos. A assim chamada "estética da mudança" (Cf. Graburn, 1976) deve ser enfocada como uma forma de retórica, um legítimo mecanismo de atuação através do qual os grupos indígenas podem redefinir a sua própria cultura e resistir social e politicamente aos impactos sofridos”. (GRUPIONI, 1994, p.87)

          Atualmente Terêncio ministra cursos em várias comunidades indígenas do estado, ele nos contou que o processo de modelagem da cerâmica é manual, mas que algumas comunidades, já são equipadas com forno próprio para a queima da cerâmica. Ele nos explicou que embora algumas tenham, ele não as usa, pois prefere a queima tradicional. Provavelmente isso ocorra porque até hoje ele não conseguiu adequar o forno a temperatura correta, pois a argila da região da Raposa Serra do sol tem uma pequena concentração de enxofre na composição, fazendo com que exploda se a temperatura não estiver certa. Desta forma, o método tradicional para a queima continua a ser praticado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar sobre as panelas de barro indígena Macuxi, entendemos que mesmo com o fato de ter ocorrido transformações tanto no processo de produção quanto em sua forma estética, dando criação a novos tipos de utensílios, os valores culturais estão presentes. É provável que, com o passar dos anos, outras mudanças possam acontecer, pois cada vez mais as populações tradicionais sofrem influências ao contato com outras culturas e devido ao fácil acesso às informações, assim como as novas tecnologias. Assim, concluímos este artigo, enfatizando que as panelas de barro possuem grande significado na cultura local, tornando-se parte do cotidiano de muitas pessoas e mostrando sua importância para a comunidade no Estado de Roraima. 
  
REFERÊNCIAS
                                                                      
ARAÚJO, Denise. Cerâmica Macuxi, uma arte milenar. Disponível em: http://www.letrassaborosas.com.br/2013/11/ceramica-macuxi-uma-arte-milenar-folha.html Acesso em 28 fev 2016.
CASTELO B. M L. X. Patrimonização das panelas de barros Macuxi: saberes e fazeres na cidade de boa vista-RR. 2015. 80p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Faculdade de Antropologia, Universidade Federal de Roraima.
 CAVALCANTE, O. de C. Gênero e agências feministas makuxi. Textos e Debates. Boa vista. N.18, 2012. P.93-111
 GENTE que faz. Lídia Raposo e a tradição da panela de barro Macuxi. Revista Gente que faz. Boa vista, RR, 2ª edição, p. 22-23, jan, 2016.
 GRUPIONI, L. D. B.  Índios no Brasil. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1994.
 KOK, Glória. Roteiros Visuais no Brasil: artes indígenas. São Paulo: Claro Enigma, 2014.
 RIBEIRO, Berta G. Arte Indígena, linguagem Visual/Indigenous Arte, Visual Language; tradução de Regina Regis Junqueira. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1989.

 Dayana Soares A. Paes; professora do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima; atualmente ministra a disciplina Laboratório de Cerâmica, Desenho e Pintura; Participa do Programa de Mestrado Sociedade e Fronteiras da UFRR na Linha de Pesquisa 2: Fronteiras e Processos Socioculturais com enfoque na pesquisa sobre arte indígena; é Conselheira no Conselho Estadual de Cultura e Conselho Nacional de Políticas Culturais; atua enquanto curadora em exposições individuais e coletivas;

Guaracy da Costa Silva, artista plástico e acadêmico do Curso de Artes Visuais da UFRR, ministra Oficinas de Arte no ramo de Confecção de biojóias, entalhe em madeira, reaproveitamento de papelão e derivados, reaproveitamento de garrafas PET, artesanato em argila, pintura mural, escultura em fibrocimento. participou De Exposições E Feiras Como: Amazônia, Sesc-Rj; Feira De Artesanato Amazônia- Prefeitura Municipal De Boa Vista;Exposição No Projeto Overdoze – Sesc-Rr; Exposição De Obras De Arte - Pintura Técnica; Exposição De Intervação Artísitica – A Arte Como Forma De Tratamento De Dependência Química; I Seminário Internacional De Meio Ambiente E Turismo Sustentável – Femact-Rr. Obteve As Seguintes Premiações: Prêmio Forte São Joaquim, 7.° BIS - 2.° lugar. Categoria escultura e; Concurso de Pintura Batalhão Símon Bolivar – Uma História de Obras. 3.° lugar, categoria pintura. 

Meury Chayhayny Oliveira de Araújo. Acadêmica do Curso de Artes Visuais. Participa enquanto bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência desde atuando principalmente no campo da tecnologia nas escolas. Participou de exposições coletivas no âmbito do Curso de Artes Visuais.
  





[1] Artigo inédito realizado a partir do resultado parcial de um trabalho acadêmico elaborado no Seminário Interdisciplinar do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima sob orientação da professora Dayana Soares A. Paes.
[2] Boa Vista-RR,1984; Formação em Psicologia e Licenciatura em Artes Plásticas, mestranda no Progama Sociedade e Fronteiras na linha de pesquisa 2: Fronteiras e processos socioculturais; professora no Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima ministrante da disciplina Laboratório de Cerâmica; Conselheira no CNPC e Conselho Estadual de Cultura de Roraima. dayana.soares@ufrr.br
[3] Boa Vista - RR, 1975, Artista Plástico e acadêmico do Curso de Artes Visuais da UFRR; guaracy20@gmail.com
[4] Boa Vista - RR, acadêmica do Curso de Artes Visuais da UFRR; bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID;  meurychayhayny@hotmail.com
[5] Dança que os indígenas Macuxi usam em momentos festivos tanto na comunidade.
[6] Caldo de peixe moquiado(assado no espeto que é denominado moquim, segundo os indígenas) com bastante pimenta.
[7] É uma bebida de mandioca brava, que é cozida depois de ralada e colocada em recipiente para fermentar (mandioca com batata, milho, cará, abobora, macaxeira).

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