PANELA DE BARRO
INDÍGINA MACUXI: processos e transformações[1]
RESUMO
Este artigo trata do resultado parcial de uma atividade feita no
Seminário Interdisciplinar do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de
Roraima. Este é realizado semestralmente e consiste em elaborar trabalhos
teóricos/práticos a partir de um tema escolhido por um grupo de estudantes sob
orientação de um professor, onde foi decidido atuar com a temática Cerâmica
Indígena Macuxi. O maior objetivo foi estudar sobre o processo da produção das
panelas de barro dos indígenas da etnia Macuxi e suas transformações sob o
ponto de vista do casal indígena Lídia e Terêncio. Para isso, o grupo realizou
visitas à casa/ateliê destes, visto que em Boa Vista, destacam-se na produção,
comercialização e exposição artística das panelas de barro e outras criações
com a utilização da argila. Durante a coleta de dados, foram realizadas
entrevistas e registros fotográficos das peças trazendo não apenas o processo
de produção, mas também histórias sobre as tradições do povo macuxi. Diante
disto, pudemos perceber algumas mudanças na produção das panelas de barro e no
ritual que envolvia a retirada da argila.
Assim, o presente artigo abordará sobre o processo de produção das
panelas de barro da cerâmica macuxi a partir da perspectiva histórica de Lídia
e Terêncio apontando algumas transformações.
Palavras Chave: Cerâmica Macuxi; Panela de Barro;
Transformações.
Ponentes en el Museo Nacional de Colombia, Foto: Michelle Avila Grismaldo- Cerámica Amarilla
INTRODUÇÃO
A partir do Seminário Interdisciplinar, que
ocorre semestralmente no Curso de Artes Visuais da UFRR, abordamos sobre a
produção da panela de barro dos indígenas Macuxi. Nosso objetivo foi analisar o
processo histórico cultural da produção deste artefato baseado na entrevista
que realizamos com o casal indígena macuxi Lídia e Terêncio, visto que este,
conforme nossas pesquisas, representam uma das maiores produções de cerâmica
Macuxi na cidade.
Boa Vista, capital de Roraima, possui algumas
ramificações na produção de artefatos cerâmicos. O principal está direcionado
para atender a indústria da construção civil com a produção de telhas e
tijolos. Existem também os ceramistas que migraram para Boa Vista durante o
processo de ocupação no século XX e que
trouxeram em suas bagagens um conhecimento tradicional que passaram a utilizar
na confecção de vasos e utensílios de jardinagem, os acadêmicos, que têm
contato com a cerâmica no Curso de Artes visuais, dos quais muitos são indígenas
ou são descendentes, fazendo uma
produção baseada em poéticas individuais e, os povos indígenas, dos quais
tratamos aqui da produção das panelas de barro dos Macuxi que residem na
cidade.
Ao nos referirmos à arte indígena e cerâmica
Macuxi, fizemos uma busca bibliográfica e encontramos poucas referências em
relação a livros, porém encontramos artigos, TCCs e reportagens que retratam
este tema e, quase todos eles, falam exatamente sobre Lídia Raposo, visto que
ela é considerada uma das maiores produtoras das panelas de barro atualmente.
Desta forma, destacamos o trabalho de Castelo Branco (2015) que aborda sobre a
patrimonialização das panelas e traz um relato detalhado sobre a produção das
peças de Lídia; autores que falam sobre a produção cerâmica indígena em Roraima
como Theodor Koch-Grunberg (2006) e Kok(2014); bem como Berta Ribeiro (1989)
que trata sobre arte indígena, entre outros.
No estado de Roraima, os indígenas Macuxi pesar
de terem várias manifestações culturais como a dança parixara[5], a
damurida[6] e o
caxiri[7], são
bastante conhecidos pela sua produção cerâmica das panelas de barro. A cerâmica
é limpa, sem grafismos ou pinturas o que as tornam únicas e tradicionalmente Macuxi.
Assim, no decorrer deste artigo, baseado nas entrevistas dos indígenas
ceramistas Macuxi Lídia e Terêncio, mostraremos brevemente o processo de
confecção das panelas, bem como as mudanças que sofreram com o decorrer do
tempo.
CERÂMICA MACUXI
É muito provável que a história da
cerâmica tenha começado logo após a descoberta do fogo, pois, o homem descobriu
que ao ser queimada, a argila se transformava em um material rígido e
inalterável ao contato com a água. Os indígenas dominam a técnica da cerâmica
há milhares de anos e foi o domínio desta técnica uma das responsáveis pela
contribuição na sedimentação destas civilizações. As cerâmicas indígenas têm
características próprias que varia de região para região. Até hoje é realizada
por várias comunidades indígenas a fabricação de panelas, vasos, recipientes
para armazenar água e até fabricação de bonecas, como na tribo Carajás no
Tocantins, por exemplo.
Devido a convivência do índio com o
não-índio, tiveram muitas mudanças na forma de viver e ver o mundo de
incontáveis povos. Uma das tradições milenares indígenas era o uso e produção
das panelas de barro, mas em Roraima esta tradição estava sendo esquecida. Os
jovens já não sabiam mais produzir as peças cerâmicas e não mais as utilizavam,
como de costume. Provavelmente, isso pode ter ocorrido pelo fato de terem se
aproximado de novas tecnologias fazendo com que os indígenas também acabassem
por usufruir de objetos industrializados que, ao nosso ver, poderiam estar
facilitando mais seus afazeres, como as panelas de alumínio, por exemplo, pois
estas possuem grande durabilidade. Por mais que as panelas de barro sejam um
dos utensílios usados no processo de preparo de alimentos mais antigos que
existem, alguns povos deixaram de utilizar e outros as utilizam até hoje. A
isso, temos percebido que, não somente com os Macuxi, mas também com outas
etnias de Roraima, está ocorrendo um processo de revitalização do fazer e uso
desse utensílio. Os indígenas estão voltando a produzir, falar da importância
de utilizar as panelas de barro, conforme podemos perceber nas festas de
artesanato e exposições de trabalhos indígenas.
O antropólogo alemão Theodor Koch-Grunberg
(2006), nos anos de 1911 a 1913 viajou pelo norte do Brasil, passando também
pelo Estado de Roraima e, em seu diário, traz o relato de vivências que teve a
partir do contato com vários povos indígenas. Com base em suas narrativas sobre
os artefatos, queremos destacar o que ele disse sobre a cerâmica que encontrou
na aldeia Koimélemong, ao norte de Roraima. Nesta, habitavam indígenas Macuxi,
Wapichana e Tauregang. O mesmo afirma que as cerâmicas feitas pelas mulheres
tinham uma qualidade diferente das que ele encontrou nas tribos Aruak no alto
Rio Negro. Em Koimélemong “as panelas e os potes, grosseiros, não têm enfeite
nenhum e são malcozidos”. Aqui podemos constatar que as cerâmicas feitas pelos
indígenas de Roraima ainda seguem o mesmo formato na questão de acabamento,
pois continuam lisas, sem desenhos ou relevos, ou seja, não possui desenhos
decorativos.
O que se sabe sobre a cerâmica Macuxi
é que antes de ser criado o Estado de Roraima, as sociedades indígenas deste
local, possuíam uma rede de trocas, conforme visto em Castelo Branco (2015,
p.34 apud RODRIGUES, 2013 p.42) afirmando que “no Brasil, os Ingarikó antes do
contato com a colonização no século XIX mantinham uma rede de troca com os
Macuxi, onde desciam as serras com suas produções de fibra de arumã, tipitis,
jamaxim e trocavam por panelas de barro’’.
Kok (2014, p. 47), fazendo uma distinção entre as artes indígenas,
afirma que algumas peças são encontradas em várias regiões devido a essa rede
de trocas, como o caso do Muiraquitã encontrado tanto no Amazonas quanto em
Roraima, alegando que “no início do ano 1000 de nossa era, as populações
amazônicas estavam integradas em redes de trocas de artefatos, informações e
alianças de guerra, que possibilitavam o intercâmbio entre culturas bastante
afastadas uma das outras”. As panelas de barro eram tão desejadas que fez com
que fossem não só uma moeda de troca, mas um poderoso condutor e promotor de
intercâmbios entre culturas de povos distintos causando então novas alianças.
Com esta afirmação, podemos constatar que nessa época havia uma grande produção
para que ocorresse a comercialização, e assim vemos ocorrer nos dias atuais,
muitos roraimenses possuem uma panela de barro em sua casa.
MUDANÇAS NA PRODUÇÃO DAS PANELAS DE BARRO
MACUXI
Iniciaremos este ponto descrevendo
primeiramente fatos importantes que descrevem como os antepassados de Lídia da
Silva Raposo, índia Macuxi, que nasceu e se criou na comunidade indígena Raposa
Serra do Sol, faziam as panelas de barro. Para isso, lembramos que muito dos
dados coletados foram relatados pela própria e seu companheiro Terêncio durante
as entrevistas e registros fotográficos que realizamos, com a devida
autorização. Quando criança, Lídia recorda que via sua avó Damiana fazendo as
panelas. Foram com essas lembranças que desenvolveu esse ofício.
Para a produção, tudo começava um dia
antes da retirada do barro. Em sua fala Lídia relata: “Quando era criança, minha vó Damiana, um dia antes de ir pegar o barro
fazia uma mistura de óleo e urucum dentro de uma cuia para poder benzer. Eu
perguntei a minha vó, ela disse que era para proteção. De manhã cedinho, ela
passava o urucum benzido em mim, nos braços, nas pernas, no rosto, e preparava
o peixe assado, o tabaco e o retalho para levar para vovó barro, que é como
chamamos a mãe natureza. E quando chegávamos no barranco ela começava a dizer
‘Vovó eu trouxe um retalho pra você vestir, eu trouxe um peixe pra você comer,
eu trouxe um tabaco pra você fumar’, ela falava isso em Macuxi, andando falando
e pondo no barranco” (LÍDIA, entrevista em 31/10/2015). Ela também relatou
que antigamente, somente a mulher podia pegar o barro, mas que não podia estar
menstruada, de luto ou grávida. Outro fator é que as crianças não podiam
produzir, somente olhar e fazer silêncio, pois a “Vovó barro” não gostava de
barulho. Além disso, os homens não podiam ver as mulheres fazendo as panelas de
barro, pois acreditavam que as panelas rachavam.
Quando Lídia foi morar na cidade,
conheceu Terêncio e se uniram. Aproximadamente nos anos 90, trabalhou pelo
governo, mas posteriormente saiu do emprego e começou a trabalhar em casa de
família. Ela disse que diariamente pensava em produzir as panelas, mas que
tinha visto apenas sua vó fazer e, mesmo assim, decidiu tentar. Então, durante
o dia trabalhava nas casas e a noite trabalhava com o barro. Apenas com as
lembranças iniciou o processo onde algumas coisas deram erradas. Primeiro ela
fez a queima apenas com o carvão. Não funcionou porque a panela além de ter
diminuído, não atingia a temperatura necessária. Depois queimou com lenha e
funcionou. Nesse jogo entre erros e acertos, muitas panelas racharam antes ou
durante a queima, contudo, atualmente já dominam a cozedura. Quando conseguiu
finalmente fazer a tradicional panela de barro Macuxi, seu companheiro saía
durante o dia de bicicleta para tentar vender e aumentar a renda da família.
Quem quisesse a panela e não tivesse dinheiro podia utilizar o mesmo método que
faziam no passado, trocar por algo que a família necessitava. Geralmente eram
alimentos. Desta forma as vendas foram crescendo e o casal começou a se
sustentar apenas com a venda e também ministrando cursos sobre a panela de barro.
Ao relatar sua história sobre o processo de
produção das panelas de barro, Lídia nos falou que ainda segue alguns costumes,
no entanto, também mudou alguns procedimentos que consideramos como mudanças na
tradição, ou seja, utiliza um novo modo de fazer. A partir de então podemos
evidenciar algumas transformações. Primeiro a comunidade não queria deixar o casal pegar o barro porque alegavam que
eles não moravam lá, mas isso foi vencido, pois, apesar de não morar lá, Lídia
alegou que nasceu, foi criada e, portanto, é Macuxi, dizendo que poderia sim
pegar a matéria prima. Fretavam um carro para carregar o barro, mas quem
coletava ainda era ela, uma mulher, conforme a tradição. No entanto, com o
passar do tempo e devido a demanda, Terêncio começou a ajudar na produção e
também produz panelas. Esse é outro fator de mudança que podemos constatar,
pois antigamente o homem não podia participar desse processo. Além do mais, os clientes começaram a
encomendar outros modelos, onde da panela de barro surgiram travessas,
cuscuzeiras, e utensílios bem diferentes das panelas.
No
processo de produção, depois da coleta, pilam o barro dentro de um grande pneu
de trator cortado ao meio, peneiram para tirar dejetos, molham e deixam
descansar para posteriormente modelar. Antigamente eles pilavam o barro em cima
de uma grande pedra. No trabalho mais pesado, além de Terêncio, o filho também
ajuda. Para a panela, usam a técnica manual de acordelado. Em momentos de alta
demanda, para agilizar, Terêncio faz as “cobrinhas” e Lídia vai sobrepondo e
subindo a panela. Na modelagem das tampas usam um molde de gesso. No acabamento
os filhos, que já são adultos, também ajudam a polir utilizando primeiro um
pedaço de cabaça e, em seguida, a pedra jaspe. Já testaram outras massas, mas
consideram que apenas o barro de sua terra de origem é bom para fazer cerâmica.
Para a queima, descobriram que podiam utilizar as madeiras que encontravam
jogadas no lixo, inclusive portas de guarda-roupas feitas de aglomerado. Antes
usavam somente a lenha. Na casa/ateliê do casal criaram uma espécie de corredor
com tijolos de aproximadamente 50cm de altura, onde colocam uma grelha em cima,
sendo este o lugar que na primeira fase da queima ficam as panelas emborcadas.
Nessa fase, primeiro colocam a panela para esquentar na brasa. Na segunda fase,
tira-se a grade e colocam as panelas direto no fogo colocando mais lenha para
atingir a temperatura esperada. Com as panelas ainda quente, retiram-nas do
fogo com um pedaço de metal e jogam no seu interior uma mistura concentrada de café com açúcar para
impermeabilizar e poder usá-las para cozinhar alimentos. A damurida é um dos
alimentos muito consumido pelos indígenas. Uma das características principais
da panela de barro macuxi, com dito anteriormente, é sua superfície lisa, sem
desenhos e muito bem brunidas. Para
isso, Berta Ribeiro (1989, p. 38) acrescenta que “a produção da cerâmica
atendeu a uma necessidade humana básica: a cocção de cereais e outros
alimentos. Trata-se de uma tendência universal, entretanto, cada grupo humano
imprimiu a essa arte sua ‘personalidade cultural’”. Assim, podemos dizer que
por muitos anos a tradicional panela Macuxi revela, desde o seu ritual de
antigamente, como sua forma de produção atual, elementos que apresentam a
cultura da etnia Macuxi.
Apesar de morar na cidade há quase 15
anos e algumas tradições terem sido quebradas, como o fato de seu companheiro
Terêncio Malaquias ajudar na produção das panelas, por exemplo, Lídia acredita
que algumas tradições não devem ser esquecidas. A mesma relatou que certa vez
foi buscar barro na Raposa (Lugar de onde vem a argila de sua produção), ainda
de luto por um parente e que também levou uma amiga que estava menstruada.
Posteriormente, ela conta que se sentiu mal e sonhou que “vovó barro” ficou
zangada e a aldeia toda ficou doente por culpa dela. No sonho, Lídia perguntava
a vovó barro o porquê, ao passo que recebia a resposta “você sabe o que você
fez”, se referindo ao luto quebrado. A amiga que acompanhou Lídia, ficou
doente. Outro fator interessante foi relatado por Terêncio, ele disse que seus
irmãos, quando vêm à cidade, ajudam na produção das panelas, coisa que eles não
fazem na comunidade, para evitar gozações. Alegou que na comunidade os outros
homens falam que é coisa de “mulherzinha” e inclusive já foi alvo dessas
gozações, por ministrar curso de panelas de barro nas comunidades indígenas.
Hoje em dia, os homens ajudam na retirada do barro e no transporte. Desta forma, a ausência de crença nos chamou
atenção pelo fato de eles não fazerem na comunidade apenas porque os outros
homens acham que é coisa de mulher, e não por creem que o barro vai rachar ou
não vai dar certo.
Com o crescimento da demanda das
panelas de barro, acreditamos que algumas mudanças foram necessárias, porque,
mesmo assim, percebemos a valorização que a população e os próprios indígenas têm
dado às panelas de barro indígenas Macuxi devido ao seu valor cultural. Além de
a população em geral vir adquirindo as peças, a própria rede de restaurantes
percebeu que estes utensílios possuem algumas qualidades. Uma delas é que estes
utensílios não possuem aditivos artificiais ou sintéticos. Outro fator, é que,
principalmente nas peixarias, as panelas mantêm o alimento aquecido por mais
tempo. Sobre as transformações tanto no processo quanto na criação de novos modelos de cerâmica, Berta Ribeiro (1989, p.48) contribui
afirmando que “tal como a cultura, a arte primitiva, não obstante sua aparente
estabilidade, é passível de transformações na medida em que o grupo sofre
influência de outros ou da sociedade nacional circundante”, ou seja, percebemos
este fato quando, a pedido de restaurantes e pessoas da comunidade em geral,
Lídia e Terêncio produzem outros tipos de peças que atendam às necessidades de
seus compradores.
Para Lídia, as
panelas têm mais do que o valor econômico, elas carregam em si valores
simbólicos de sua cultura. Ao tratar do termo cultura, nos referimos aqui a
indivíduos que seguem uma “tradição”, termo este muito utilizado pela própria
Lídia. Tradição no sentido de continuar a reproduzir o que os antepassados
ensinavam, de geração em geração, fazendo com que assim seja caracterizado o
modo de vida, o costume de um povo. Ela enfatiza que seu maior orgulho é estar
mantendo sua cultura.
Suas panelas se tornaram conhecidas na cidade mesmo
com algumas das transformações que ocorreram, como em suas tampas e pegadores,
por exemplo. Pois antigamente a panela possuía quatro pequenos pegadores e
agora possui dois. Com o tempo, também surgiram os refratários, as cuscuzeiras,
fogareiros, peças de formas e tamanhos diferentes, dependendo da encomenda de
cada cliente, e tudo feito manualmente. Em todo esse processo de criação,
podemos perceber as interferências devido à relação com outras culturas, com outros
fatores sociais acarretando assim nas transformações estéticas quanto ao
formato e produção. Sobre isso, Grupioni (1994) em seus estudos antropológicos, trata da questão estética e da
criatividade do indivíduo alegando que:
“A antropologia da estética ocupa-se
ainda da criatividade individual, ou seja, o estudo do indivíduo através da sua
elaboração cognitiva e inventividade pessoal, inserido em seu contexto
sócio-cultural. A criação estética é analisada como uma performance, reveladora
de aspectos individuais e sociais. Outro ponto importante é o estudo da
estética no contexto de transformação social, acarretado pelos contatos
inter-étnicos. A assim chamada "estética da mudança" (Cf. Graburn,
1976) deve ser enfocada como uma forma de retórica, um legítimo mecanismo de
atuação através do qual os grupos indígenas podem redefinir a sua própria
cultura e resistir social e politicamente aos impactos sofridos”. (GRUPIONI,
1994, p.87)
Atualmente
Terêncio ministra cursos em várias comunidades indígenas do estado, ele nos
contou que o processo de modelagem da cerâmica é manual, mas que algumas
comunidades, já são equipadas com forno próprio para a queima da cerâmica. Ele
nos explicou que embora algumas tenham, ele não as usa, pois prefere a queima tradicional.
Provavelmente isso ocorra porque até hoje ele não conseguiu adequar o forno a
temperatura correta, pois a argila da região da Raposa Serra do sol tem uma
pequena concentração de enxofre na composição, fazendo com que exploda se a
temperatura não estiver certa. Desta forma, o método tradicional para a queima
continua a ser praticado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar sobre as panelas de barro indígena Macuxi,
entendemos que mesmo com o fato de ter ocorrido transformações tanto no
processo de produção quanto em sua forma estética, dando criação a novos tipos
de utensílios, os valores culturais estão presentes. É provável que, com o
passar dos anos, outras mudanças possam acontecer, pois cada vez mais as populações
tradicionais sofrem influências ao contato com outras culturas e devido ao
fácil acesso às informações, assim como as novas tecnologias. Assim, concluímos
este artigo, enfatizando que as panelas de barro possuem grande significado na
cultura local, tornando-se parte do cotidiano de muitas pessoas e mostrando sua
importância para a comunidade no Estado de Roraima.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Denise. Cerâmica Macuxi, uma arte milenar. Disponível em:
http://www.letrassaborosas.com.br/2013/11/ceramica-macuxi-uma-arte-milenar-folha.html
Acesso em 28 fev 2016.
CASTELO B. M L. X. Patrimonização das panelas de barros Macuxi: saberes e fazeres na
cidade de boa vista-RR. 2015. 80p. Trabalho de conclusão de curso
(Graduação) – Faculdade de Antropologia, Universidade Federal de Roraima.
CAVALCANTE, O. de C. Gênero e agências
feministas makuxi. Textos e Debates.
Boa vista. N.18, 2012. P.93-111
GENTE que faz. Lídia Raposo e a tradição
da panela de barro Macuxi. Revista Gente
que faz. Boa vista, RR, 2ª edição, p. 22-23, jan, 2016.
GRUPIONI, L. D. B. Índios no Brasil. Brasília: Ministério
da Educação e do Desporto, 1994.
http://www.letrassaborosas.com.br/2013/11/ceramica-macuxi-uma-arte-milenar-folha.html. Acesso em: 03 de maio de 2016.
http://portalamazonia.com/fileadmin/user_upload/acervo/2/files/2012/01/panela-de-barro-405x270.jpg Acesso em: 12 mai 2016
KOK, Glória. Roteiros
Visuais no Brasil: artes indígenas. São Paulo: Claro Enigma, 2014.
RIBEIRO, Berta G. Arte Indígena, linguagem Visual/Indigenous Arte, Visual Language;
tradução de Regina Regis Junqueira. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Ed. da
Universidade de São Paulo, 1989.
Dayana Soares A. Paes; professora do
Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima; atualmente ministra
a disciplina Laboratório de Cerâmica, Desenho e Pintura; Participa do Programa
de Mestrado Sociedade e Fronteiras da UFRR na Linha de Pesquisa 2: Fronteiras e Processos
Socioculturais com enfoque na pesquisa sobre arte indígena;
é Conselheira no Conselho Estadual de Cultura e Conselho Nacional de Políticas
Culturais; atua enquanto curadora em exposições individuais e coletivas;
Guaracy da Costa Silva, artista plástico
e acadêmico do Curso de Artes Visuais da UFRR, ministra Oficinas de Arte no ramo de Confecção de biojóias, entalhe em madeira, reaproveitamento de
papelão e derivados, reaproveitamento de garrafas PET, artesanato em argila,
pintura mural, escultura em fibrocimento. participou De Exposições E Feiras Como: Amazônia, Sesc-Rj; Feira De Artesanato Amazônia- Prefeitura Municipal De Boa Vista;Exposição
No Projeto Overdoze – Sesc-Rr; Exposição De Obras De Arte - Pintura Técnica;
Exposição De Intervação Artísitica – A Arte Como Forma De Tratamento De Dependência
Química; I Seminário Internacional De Meio Ambiente E Turismo Sustentável – Femact-Rr. Obteve As
Seguintes Premiações: Prêmio
Forte São Joaquim, 7.° BIS - 2.° lugar. Categoria escultura e; Concurso de
Pintura Batalhão Símon Bolivar – Uma História de Obras. 3.° lugar, categoria
pintura.
Meury Chayhayny Oliveira de Araújo. Acadêmica do Curso de Artes Visuais. Participa enquanto
bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência desde
atuando principalmente no campo da tecnologia nas escolas. Participou de
exposições coletivas no âmbito do Curso de Artes Visuais.
[1] Artigo inédito realizado a
partir do resultado parcial de um trabalho acadêmico elaborado no Seminário
Interdisciplinar do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima
sob orientação da professora Dayana Soares A. Paes.
[2] Boa Vista-RR,1984; Formação em
Psicologia e Licenciatura em Artes Plásticas, mestranda no Progama Sociedade e
Fronteiras na linha de pesquisa 2: Fronteiras e processos socioculturais; professora no Curso de Artes
Visuais da Universidade Federal de Roraima ministrante da disciplina
Laboratório de Cerâmica; Conselheira no CNPC e Conselho Estadual de Cultura de
Roraima. dayana.soares@ufrr.br
[3] Boa Vista - RR, 1975, Artista
Plástico e acadêmico do Curso de Artes Visuais da UFRR; guaracy20@gmail.com
[4] Boa Vista - RR, acadêmica do
Curso de Artes Visuais da UFRR; bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID; meurychayhayny@hotmail.com
[5] Dança que os indígenas Macuxi usam em momentos festivos tanto na
comunidade.
[6] Caldo
de peixe moquiado(assado no espeto que é denominado moquim, segundo os
indígenas) com bastante pimenta.
[7] É uma bebida de mandioca brava, que é cozida depois de ralada e colocada em recipiente
para fermentar (mandioca com batata, milho, cará, abobora, macaxeira).
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